Gaza: ‘Tenho mais medo da fome e das doenças do que dos bombardeios’, diz palestino

Israel diz ter liberado 100 caminhões para entrar em Gaza, mas ainda não houve distribuição
Hosam Abu Aida, de 38 anos, morador de Beit Lahia, uma cidade no norte da Faixa de Gaza que está sitiada pela mais recente ofensiva de Israel, falou à agência de notícias AFP sobre a situação no território.
Como milhares de outros moradores de Gaza, ele contou que vive atormentado pela falta de comida para os filhos:
“Tenho mais medo da fome e das doenças do que dos bombardeios israelenses. A fome está nos destruindo”, diz.
Após mais de dois meses de bloqueio da entrada de ajuda humanitária no território, autoridades israelenses permitiram a entrada de caminhões em quantidades limitadas esta semana diante da crescente pressão internacional, com críticas até mesmo dos Estados Unidos, seu principal aliado.
Israel anunciou que autorizou a entrada de 93 caminhões da ONU carregados com ajuda humanitária, incluindo farinha, alimentos para bebês e suprimentos médicos, nesta terça-feira (20), e outros 100 nesta quarta-feira (21).
“A situação é insuportável. Ninguém nos deu nada, todos estão apenas esperando. Estamos ouvindo falar de ajuda há dois dias, mas até agora não chegou nada e não recebemos nada. Apenas palavras vazias”, lamenta Um Talal al Masri, de 53 anos, da Cidade de Gaza.
A ONU reclama que essa ajuda é “uma gota em um oceano” de necessidades e argumenta que Israel está impedindo que a ajuda chegue à população.
Israel acusa o Hamas, que governa Gaza, de desviar remessas de ajuda, e o movimento islamista acusa as autoridades israelenses de usar “a fome como arma de guerra”.
“Meus filhos vão dormir com fome todos os dias. Não queremos mais promessas, queremos viver”, afirma Omar Salem, que vive em um campo de deslocados em Khan Yunis, no sul do território.
Enquanto isso, nas cozinhas comunitárias, que há semanas alertam para a falta de alimentos, a população aglomerada vai esvaziando as panelas até a última colherada. Em Nuseirat, centro de Gaza, cenas que mostram a grave situação no território são registradas.
Apesar dos perigos, muitos moradores de Gaza dizem que estão dispostos a correr qualquer risco para encontrar algo para comer.
“Não é um luxo, é uma emergência. Precisamos de tudo: comida, remédios, água potável, produtos de higiene”, resume Al Masri.